terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Otimismo...

Eu não sou muito fã de ficar colocando aqui texto dos outros. Longe de achar que escrevo melhor, e até já cansei de dizer aqui que sou mera aprendiz... Mas Drummond é sempre Drummond, rs...


Além disso, gosto tanto deste texto e acho que não teria palavras melhores para explicar como me sinto diante da chegada de um novo ano. Não acredito que tudo irá mudar a partir do dia primeiro de janeiro, só porque uma onda de esperança nos invade. Mas continuo sendo bastante otimista com a nossa capacidade tão maravilhosa ao mesmo tempo tão desprezadamente escondida de fazermos grandes mudanças a partir de pequenos gestos. Tudo (ou quase) está ao nosso alcance. Basta deixar de reclamar, de culpar nossos pais, o sistema, o governo ou seja lá o que for. Grandes mudanças acontecem quando assumimos a responsabilidade sobre nossas vidas.


Um 2009 iluminado para todos nós.


Receita de Ano Novo
Carlos Drummond de Andrade

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

A penteadeira e suas Marias...

E não é que descobri o paradeiro da penteadeira da minha avó?????

Quem me lê desde o princípio sabe bem do que estou falando...

O móvel atravessou o Brasil, mas continua na família. Parece que outra Maria anda fazendo história diante dela... Fiquei feliz!
Elas não são lindas?


quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Delicadeza...


Para Camis!

Que foi um verdadeiro presente na minha vida este ano e que me mandou de surpresa um cartão de natal delicadíssimo! Quase como receber margaridas em envelopes...

Obrigada amiga querida!!!!!

A sua amizade é algo que meu coração cultiva naturalmente!!!!

Que 2009 seja um ano iluminado para você e Michel!

About me

Sempre que vou escrever sobre mim, parece uma tarefa inacabável.

Quando acabo a última linha, já pareço um pouco diferente daquela que acabei de descrever.

E de fato, sou mesmo.

A cada viagem introspectiva, há uma nova descoberta, um novo pensamento, que imediatamente já fez de mim outra.

O about me aí do lado é "fresco", mas não se iluda: muitas de mim não couberam neste pequeno espaço.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Reflexões sobre 2008...


Ah, eu adoro o Natal... Mas mesmo sendo ansiosa, me neguei a antecipar o espírito natalino. O que foi essa onda de lojas e shoppings decorados desde o fim de outubro? Foi só na última semana que decorei minha casa e trabalho. Agora sim, começo a pensar nas lembrancinhas e tudo mais. Essa foto tirei da nossa árvore. Não ficou linda?

O fato é que espero que este Natal deve encerre com chave de ouro um ano de muito aprendizado. Fins de ano são épocas ótimas pra se rever tudo o que passou e planejar o que virá. E por mais piegas que possa parecer, eu faço sim resoluções de fim de ano...

2008 foi o ano em que grande parte das resoluções que fiz lá em janeiro não foram cumpridas. Foi também o ano em que eu aprendi o quanto é libertador deixar que alguns sentimentos que estavam escondidos bem lá no fundo viessem à tona, para depois fluirem... A ilusão de controle sobre a vida foi substituída por uma verdadeira avalanche de emoções. E a surpresa é sempre muito mais emocionante, não é? Pois o inesperado deste ano foi aprender a me encontrar de um jeito muito mais leve, verdadeiro e livre.

Estou me preparando para um Natal diferente... Pareço a mesma, mas posso garantir: sou outra. E não há nada que eu possa comparar com a alegria de poder me presentar com uma nova descrição sobre mim, que postarei em breve, no canto direito deste blog.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Coração tranquilo...

A minha inspiração é inversamente proporcional à minha depressão.

Portanto, a gente deveria ficar ainda mais feliz quando este blog fica às moscas.

É só um sinal de eu ando muito bem, obrigada.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Globalização


Eu hein!?
Alguém sabe explicar como este blog ficou tão globalizado?
Será que uma combinação improvável o projetou no google.com?
Segue o enigma...

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Ipê roxo




Tem um ipê roxo na janela do meu quarto.
E o dia hoje amanheceu tão lindo, que nem pareceu segunda.


Eu amo a primavera.




sexta-feira, 24 de outubro de 2008

As músicas e eu...

Acontece sempre comigo. Tô eu vivendo a minha rotina deliciosa de sempre (é, eu amo rotina, confesso) e toca AQUELA música. O mundo pára. Naqueles 2, 3 minutos somos só eu e a música...

Não é sempre a mesma música não... É a do momento. Aquela combinação de notas traduzidas por instrumentos adicionadas a uma letra que traduzem exatamente uma fase da minha vida.

E aconteceu hoje de manhã.

"E se eu não voltar, não vá se preocupar
Todo mundo tem direito de mudar
...
E eu não voltei porque agora eu sei
Naquele papel eu ia pro pinel
E se alguém disser que eu me desmontei
Sou dono de mim e faço o que quiser"

Minha vida tá um stress danado. Mesmo assim fui capaz de sentir meu coração sambar por três minutos diante dessa música, que se chama Que Bandeira é bem alegrinha e perfeita pra retratar minha fase reflexiva pós-depressão enquanto me deleito ao vislumbrar a possibilidade de viver com muito, muito prazer.

O gostoso desse movimento é construir sua própria biografia musical. Tenho músicas pra cada momento que já vivi. Quando escuto Aerosmith, por exemplo, volto a ter 13 anos, sentada no muro com o "disc man" no último volume. Alanis me teletransporta aos 16. Isn't ironic? Rs... Mas é ou não é um jeito delicioso de dar uma espiadinha pro passado, de vez em quando?

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Quando uma imagem fala mais....



Cansei!

Depois de dois dias de imersão em livros e computador consegui adiantar um bom tanto meu trabalho, mas o bônus foi uma dor nas costas daquelas! Não foi surpresa quando corpitcho desabou no sofá hoje a tarde... Então parei de lutar e me presenteei com um merecido cochilo.

Baterias recarregadas pra mais uma noite loooonga, muiiiito looonga...

domingo, 19 de outubro de 2008

Felicidade...


Os últimos dias foram perfeitos.

Sexta-feira conheci uma porção de pessoas lindas. E senti meu coração agradecer ao universo pela sorte de ter ao meu lado gente que transborda beleza e delicadeza, nas palavras e no olhar.

Ainda na sexta fui ao show do Camelo. Não tenho palavras pra descrever. Fiquei em alfa... É transcendental a minha ligação com a sua arte. Meus ouvidos foram inundados de música da melhor qualidade, e seu repertório é o meu coração que canta... Camelo é a minha alma traduzida em letra e música.

Sábado fui ao cinema e assisti La faute à Fidel (A culpa é do Fidel)... Filme que queria ver há um tempão, mas só agora coloquei como prioridade. Se eu fosse cineasta faria filmes como esse. Inteligente, leve, cult, retrô, divertido. Tudo de bom. Se você ainda não assistiu, assista.

Pra encerrar com chave de ouro, um bate papo gostoso com minha mãe neste domingo de manhã... Pra matar a saudade, fofocar, pedir colo, pedir conselho, rir, chorar, relembrar, brincar. Preciso de mais?

O melhor de tudo isso está sendo me reencontrar. Confesso que fiquei com medo de ter me perdido. Felizmente não. Minha essência continuava ali, só esperando uma brecha pra dar as caras novamente. É bom estar comigo novamente...

Agora, tenho uma monografia pra terminar. Não tenho do que reclamar... Tenho uma cachorra fiel que permanecerá deitada nos meus pés até que eu conclua alguns itens sobre as "relações coercitivas nos relacionamentos amorosos". Tema pesado, difícil, cansativo... Eu juuuuuuro que meu próximo trabalho será sobre felicidade!

"Perceber aquilo que se tem de bom no viver é um dom..."

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Sobre as dores dos outros...

Como pode a dor do outro doer na gente?

Eu sempre fui uma pessoa naturalmente empática... Empatia, por definição, é a "tendência para sentir o que sentiria caso estivesse vivenciando a situação e circunstância experienciadas por outra pessoa". Trocando em miúdos, a vida toda eu me coloquei no lugar dos outros e conseguia sentir e viver quase que como sendo uma experiência minha as suas alegrias, dores e amores.

Eu nunca precisei passar por treino algum para aprender essa capacidade de me colocar no lugar de outra pessoa (como alguns dos meus colegas de profissão)... Eu sou e sempre fui assim. E vc sabe, é muito cômodo quando você tem algo tão seu, fluindo perfeitamente com sua profissão e em harmonia com o mundo que te rodeia. Eu andava por aí contente e feliz achando que carregava comigo uma graaaande qualidade.

Até que outro dia fiquei mal. Tão mal, tão mal que tive que aprender a ser menos empática... Como assim? Soou tão estranho como se me pedissem para jogar parte de um tesouro fora. Mas de repente você se dá conta que não tem outro jeito senão cuidar de você mesma e deixar um pouquinho o outro de lado, senão tuas próprias feridas não teriam as condições necessárias para cicatrizar... Ou eu cuidava de mim, ou seria sucumbida pela dor e sofrimentos alheios. Estou cuidando de mim.

Ainda soa estranho. Não me tornei egoísta, não me tornei insensível. Ainda vou sentir muito se você me trouxer uma notícia triste e posso chorar de emoção se for o caso. Mas tem me feito bem e estou muito melhor.

É preciso equilíbrio em TUDO nessa vida.

Sou grata pela dádiva de poder continuar aprendendo, sempre.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Cumpleaños

Eu não gosto de fazer aniversário.

Isso soa estranho, eu sei.

Quando era criança eu queria crescer de uma vez por todas e não via a hora de ser adulta. Cada ano que passava significava que eu estava mais perto do meu objetivo final, logo, eu deveria gostar do meu aniversário, não é? Mas não!!!! Ficar mais velha era legal, mas fazer aniversário não...

Eu só me recordo de duas vezes em que eu curti essa data: aos 6 e aos 15 anos. O meu aniversário de 6 anos foi comemorado junto com o 1º ano do meu irmão. Ele era uma fofura de bebê, atraiu 99% das atenções e tudo foi muito divertido... Bolo decorado, casa cheia de convidados, brincadeiras mil, todo mundo em cima dele e eu liberadíssima pra brincar a festa toda...

Já os meus 15 anos foram tão esperados (sim, eu achava que finalmente tinha chegado à idade adulta, rs...) que planejei antecipadamente uma festa do jeitinho que eu queria. Ganhei a presença da banda da moda e aproveitei até o último segundo a minha primeira festa adulta adolescente.

O curioso é que nenhuma dessas festas foi no dia do aniversário propriamente dito. Um dia antes, um dia depois... Mas acho que não teria me divertido tanto se as duas tivessem sido justamente no dia 29.

Não acho que tenha a ver com a hipótese psicanalítica de que no aniversário a gente morre um pouco mais e por isso se angustia tanto. Afinal, nao sou nenhuma Glória Maria que esconde a idade a 7 chaves e nem acho que alguém em sã consciência faça isso aos 25 anos (mas tenho certeza que não farei quando tiver 75, porque, como já disse aqui, acho lindo envelhecer).

Pra mim, essa melancolia que me afeta assim que entramos no vigésimo nono dia de setembro continua sendo um enigma... Como gostar de ficar mais velha mas não gostar do próprio aniversário?

Talvez esteja ligado à obrigação de atender todas as ligações com um bom-humor-de-quem-faz-de-conta-que-gosta-de-fazer-aniversário, ser abraçada, apertada, beijada, ouvir cantar parabéns, tudo isso com aquela cara de quem tá morrendo de felicidade quando, na verdade, você sabe direitinho que é só mais um dia normal como qualquer outro...

Talvez eu não goste de ser o centro das atenções. Eu gosto sim de abraços, de ligações, de beijos e tudo mais. Eu AMO presentes. Mas precisa isso tudo estar ligado à minha data de nascimento? E tuuudo assim, no mesmo dia? Ui! Adoro desejos sinceros e recados espontâneos no orkut, mas só quando vindos de quem já faz isso no dia-a-dia... Ou quem já fez, e por alguma razão muito justa não faz mais...

Para os pessimistas mais um ano que passou. Para os otimistas, um ano de experiência. Sei lá... Hoje é meu aniversário e me dei de presente um dia inteiro só pra mim...

Agora... Se mesmo depois de ler este texto você sentiu uma vontade sincera de me desejar parabéns... Obrigada!

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Dividida

Confesso que não pude imaginar o tamanho da minha exposição.

Achei que seria acessada por
amigos mais próximos e só. O número de visitas que recebi neste final de semana foi assutador. Os comentários que recebi me tocaram o coração, mas as visitas anônimas me deixaram insegura... Portanto, mudei de endereço. Se você está aqui novamente é porque foi convidado... Seja bem vindo, novamente...

Parece meio incoerente, eu sei... Será que é possível alcançar um mínimo de privacidade colocado sentimentos e pensamentos neste rede, ao alcance do clique de qualquer um? Afinal, ninguém “bloga” pra si mesmo... Quem se expõe neste meio, espera uma visita. E é claro que eu também espero. Foi bom me expor. Eu não “bloguei” esperando indiferença, senão manteria tudo bem guardado num caderno ou no meu próprio computador... Mas eu sempre fui tão reservada, que acho que ainda preciso me acostumar com esse meio...

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Impotência

Eu tentei sozinha. Não deu.

“Eu era bem melhor
Mas tudo deu um nó
E a vida se perdeu...”

Pedi ajuda. Foi bom...

Tive uma noite mais tranquila e sonhei com uma música: “Eu estou vestida com as roupas e as armas de Jorge”... Sugestivo, não?

Jorge de Capadócia
Caetano Veloso
Composição: Jorge Ben

Jorge sentou praça
na cavalaria
eu estou feliz porque eu também sou da sua companhia
eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge
Para que meus inimigos
tenham mãos e não me toquem
Para que meus inimigos
tenham pés e não me alcancem
Para que meus inimigos
tenham olhos e não me vejam
E nem mesmo o pensamento
eles possam ter para me fazerem mal
Armas de fogo
meu corpo não alcançarão
Facas e espadas se quebrem
sem o meu corpo tocar
Cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar
pois eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge
Jorge é de Capadócia


quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Medo


Confesso que nunca consegui sentir na pele o mecanismo que leva algumas pessoas a ter prazer diante do medo. Sempre me mantive distante de filmes de terror e nunca tive sequer a intenção de fazer qualquer uma dessas pequenas loucuras chamadas rafting, pára-quedismo e bungee jumping. Quando eu era pequena e ia ao circo ficava tão tensa na hora dos leões que era impossível achar graça...

Os meus medos foram sempre bem conhecidos. Insetos em geral me apavoram, mas eu consigo me manter protegida levando uma vida basicamente urbana. De vez em quando, uma ou outra lagartixa me ameaça terrívelmente, então atravesso a garagem correndo. O medo se desfaz assim que a porta do elevador se fecha e me sinto em território seguro novamente...

Fora isso, sempre me achei bem corajosa, rs. Sério! Nao tenho medo da morte, já estive sozinha do outro lado do mundo e ja resolvi muita coisa nessa vida respirando fundo e sendo racional...

Mas um medo desconhecido tem se apresentado... Um medo sem nome, sem tamanho e sem hora pra chegar. Medo de que? Não sei... Só medo. Medo de que os pensamentos não parem de vir a tona, medo de que nada mais volte ao normal. Eu não sei quando ele chega, e nem quando ele vai embora. Mas ele vai.... Sempre vai! Enquanto escrevi este post, ele se foi...


quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Tiete...

Que eu amo Marcelo Camelo todo mundo já sabe.

Acho que isso já é suficiente pra explicar o nome deste blog.

Tirei de uma poesia música dele, claro.



Uma vez, combinei aqui em casa que traição com Chico Buarque não seria traição. Quero estender este critério pro Camelo! Posso?

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Sobre as rosas que não florescem

De repente me peguei sentindo saudade.

A minha vó foi uma grande e linda mulher.

Ela tinha maravilhosas unhas compridas e vermelhas que me encantaram desde sempre. Acho que foi com ela que aprendi a ser feminina. Quando eu ainda era bem pequena olhava admirada pra a sua penteadeira : um verdadeiro arsenal de misteriosos e indecifráveis cremes e perfumes que eu sonhava um dia usar... Mas ali era um território proibido para mim, mera "aspirante" a mulher. Cresci espiando aquele tesouro, que durou anos... Depois os cremes se empoeiraram, veio o Alzheimer, fizeram uma reforma e eu já não soube mais que destino teve a sua penteadeira (que mesmo sem os cremes, era um móvel lindo). Ainda assim, segui fascinada por sua capacidade de se manter linda e cheirosa, apesar de tudo.

Ela também foi uma ótima dona de casa, embora não cozinhasse muito bem. A sua casa tinha longas e lustrosas calçadas vermelhas que ela encerava com um cuidado admirável. Gostaria muito de ter herdado a sua organização e dedicação com a casa. Confesso que continuo sem saber como manter unhas e casas igualmente impecáveis!?!


E o jardim!? As calçadas vermelhas circundavam um jardim digno de cinema. Ela era apaixonada por rosas e durante muito tempo tentou, sem sucesso, manter vivas roseiras amarelas que ela plantava no quintal. Mas não teve jeito. As roseiras vermelhas, cor-de-rosa, brancas, todas cresciam e exibiam vivas e saltitantes rosas de todas as cores, enquanto as amarelas minguavam, murchas...

Depois de um tempo, o olhar admirado trocou de direção. Ela me contemplava mulher. Gostava das minhas escolhas: roupas, cabelo, livros, profissão. Eu sempre a surpreendi com pequenos detalhes que só ela era capaz de notar. Também era fácil presenteá-la. Bastava comprar pra ela algo que eu gostasse muito. Era muita afinidade e fico feliz de ter proporcionado leves distrações no finalzinho de sua vida. Um dia, foi capaz de ficar hipnotizada com um grampo de cabelo cheio de brilho que eu usava... Lindo.

Hoje sinto saudades. Duas Marias, mulheres, sensíveis, femininas... Acho que tínhamos mesmo muita coisa em comum (além do puxadinho no canto do olho).

A morte da minha vó foi lenta e dolorosa. A cada olhar perdido, cada nome não reconhecido, cada face incógnita demos um doloroso e inevitável adeus. Assim mesmo ela foi capaz de me mostrar o quanto genuíno e puro era o seu amor por mim. Quando já não me reconhecia mais, cada visita tinha o mesmo ritual: primeiro aquele olhar confuso, depois um leve sorriso e em seguida um "primeiro" elogio admirado. Um elogio terno, amoroso, gostoso demais de se ouvir. Acho que é por isso que ainda guardo no armário o vestido verde que ela tanto gostou.

No seu enterro levei rosas amarelas e música. A música, para ela, que um dia me pediu. Ninguém se opôs e o último adeus teve trilha sonora. Já as rosas amarelas, confesso, eram pra mim. Representavam o meu desejo profundo de que a vida tivesse poupado minha vó desta e de outras frustrações. Sua vida foi muito dura. Mas foi assim, com s
eu jeito feminino e cuidadoso de viver que ela me mostrou que beleza e delicadeza podem tornar tudo mais leve.

Espero continuar parecida com ela quando envelhecer... Ser amiga do tempo, amar as minhas rugas e aprender enfeitá-las como quem exibe orgulhosa as cicatrizes de uma dolorosa batalha. Desejo a sabedoria de quem me ensinou, um dia, que um jardim continua naturalmente belo mesmo que algumas rosas teimem em não florescer...

Coragem...

Eu me rendo!

Agora eu também tenho um blog!

Welcome all.