terça-feira, 23 de novembro de 2010

Passagens

Bernardo,

É a primeira vez que chamo teu nome, nos textos que escrevo. Tem sido uma passagem lenta, essa de te chamar pelo nome. Cada vez que pronuncio Bernardo sinto que você se torna mais real e verdadeiro.

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Agora que já sei seu nome, fico aguardando o primeiro chute. Amanhã entraremos na 15a. semana de gestação, e eu acho não levará um mês até que eu sinta você espuletando dentro de mim. Aguardemos.

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Ontem a mamãe foi à terapia, você percebeu? Pois depois da terapia eu fiquei pensando sobre quanto você facilitou as coisas para mim sendo um menino. Quanta projeção eu trazia para uma filha menina, e do quanto meu coração está limpo e aberto para que você seja como você é. E então defini a sensação que predomina em relação a você: curiosidade. Aquela expectativa de querer saber como você será. De conhecer alguém que será de algum jeito, um jeito que eu vou amar, tenho certeza.
Com seu pai, é o contrário. Ele espera que você goste de cavalo, e use roupas iguais as dele (que já foram compradas, inclusive).
E eu acho isso tão bonito, de sonhar, de imaginar coisas para você... Assim, um de nós compartilha sonhos e que o outro acolhe aqueles que você mesmo sonhará...

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Você tem sido terapêutico, Bernardo! Uma paciente da mamãe que soube ontem da tua existência falou com você através da barriga, e pediu desculpas por toda a lamentação que vinha fazendo sobre a vida. Pediu que você desconsiderasse. Disse que a vida é boa, e que você vai gostar desse mundo. Falou das coisas legais que vão te encontrar do lado de cá. E a mamãe ficou com os olhos cheios de lágrima, porque frases como essa não são muito comuns vindos de alguém profundamente deprimida. Foi lindo.

domingo, 14 de novembro de 2010

Fusca

Hoje você ganhou seu primeiro brinquedo.

A bisa Lenita deu um carrinho, e disse que o presente tinha justamente essa intenção: que fosse o seu primeiro. É um fusca vermelhinho e logo fui pensando em proteger aquela relíquia simbólica das tuas mãozinhas curiosas. Queria tanto guardar para que assim para o resto da sua vida você lembrasse que foi a tua bisavó a primeira pessoa a dizer que além de camisas, sapatos e cobertores você também vai precisar de uma pitada de diversão. Mas seria muito injusto contigo, com ela e com o brinquedo. Eu prometo que deixo você brincar com ele. Depois vou guardar o que sobrar, junto com as lembranças...