segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Cumpleaños

Eu não gosto de fazer aniversário.

Isso soa estranho, eu sei.

Quando era criança eu queria crescer de uma vez por todas e não via a hora de ser adulta. Cada ano que passava significava que eu estava mais perto do meu objetivo final, logo, eu deveria gostar do meu aniversário, não é? Mas não!!!! Ficar mais velha era legal, mas fazer aniversário não...

Eu só me recordo de duas vezes em que eu curti essa data: aos 6 e aos 15 anos. O meu aniversário de 6 anos foi comemorado junto com o 1º ano do meu irmão. Ele era uma fofura de bebê, atraiu 99% das atenções e tudo foi muito divertido... Bolo decorado, casa cheia de convidados, brincadeiras mil, todo mundo em cima dele e eu liberadíssima pra brincar a festa toda...

Já os meus 15 anos foram tão esperados (sim, eu achava que finalmente tinha chegado à idade adulta, rs...) que planejei antecipadamente uma festa do jeitinho que eu queria. Ganhei a presença da banda da moda e aproveitei até o último segundo a minha primeira festa adulta adolescente.

O curioso é que nenhuma dessas festas foi no dia do aniversário propriamente dito. Um dia antes, um dia depois... Mas acho que não teria me divertido tanto se as duas tivessem sido justamente no dia 29.

Não acho que tenha a ver com a hipótese psicanalítica de que no aniversário a gente morre um pouco mais e por isso se angustia tanto. Afinal, nao sou nenhuma Glória Maria que esconde a idade a 7 chaves e nem acho que alguém em sã consciência faça isso aos 25 anos (mas tenho certeza que não farei quando tiver 75, porque, como já disse aqui, acho lindo envelhecer).

Pra mim, essa melancolia que me afeta assim que entramos no vigésimo nono dia de setembro continua sendo um enigma... Como gostar de ficar mais velha mas não gostar do próprio aniversário?

Talvez esteja ligado à obrigação de atender todas as ligações com um bom-humor-de-quem-faz-de-conta-que-gosta-de-fazer-aniversário, ser abraçada, apertada, beijada, ouvir cantar parabéns, tudo isso com aquela cara de quem tá morrendo de felicidade quando, na verdade, você sabe direitinho que é só mais um dia normal como qualquer outro...

Talvez eu não goste de ser o centro das atenções. Eu gosto sim de abraços, de ligações, de beijos e tudo mais. Eu AMO presentes. Mas precisa isso tudo estar ligado à minha data de nascimento? E tuuudo assim, no mesmo dia? Ui! Adoro desejos sinceros e recados espontâneos no orkut, mas só quando vindos de quem já faz isso no dia-a-dia... Ou quem já fez, e por alguma razão muito justa não faz mais...

Para os pessimistas mais um ano que passou. Para os otimistas, um ano de experiência. Sei lá... Hoje é meu aniversário e me dei de presente um dia inteiro só pra mim...

Agora... Se mesmo depois de ler este texto você sentiu uma vontade sincera de me desejar parabéns... Obrigada!

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Dividida

Confesso que não pude imaginar o tamanho da minha exposição.

Achei que seria acessada por
amigos mais próximos e só. O número de visitas que recebi neste final de semana foi assutador. Os comentários que recebi me tocaram o coração, mas as visitas anônimas me deixaram insegura... Portanto, mudei de endereço. Se você está aqui novamente é porque foi convidado... Seja bem vindo, novamente...

Parece meio incoerente, eu sei... Será que é possível alcançar um mínimo de privacidade colocado sentimentos e pensamentos neste rede, ao alcance do clique de qualquer um? Afinal, ninguém “bloga” pra si mesmo... Quem se expõe neste meio, espera uma visita. E é claro que eu também espero. Foi bom me expor. Eu não “bloguei” esperando indiferença, senão manteria tudo bem guardado num caderno ou no meu próprio computador... Mas eu sempre fui tão reservada, que acho que ainda preciso me acostumar com esse meio...

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Impotência

Eu tentei sozinha. Não deu.

“Eu era bem melhor
Mas tudo deu um nó
E a vida se perdeu...”

Pedi ajuda. Foi bom...

Tive uma noite mais tranquila e sonhei com uma música: “Eu estou vestida com as roupas e as armas de Jorge”... Sugestivo, não?

Jorge de Capadócia
Caetano Veloso
Composição: Jorge Ben

Jorge sentou praça
na cavalaria
eu estou feliz porque eu também sou da sua companhia
eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge
Para que meus inimigos
tenham mãos e não me toquem
Para que meus inimigos
tenham pés e não me alcancem
Para que meus inimigos
tenham olhos e não me vejam
E nem mesmo o pensamento
eles possam ter para me fazerem mal
Armas de fogo
meu corpo não alcançarão
Facas e espadas se quebrem
sem o meu corpo tocar
Cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar
pois eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge
Jorge é de Capadócia


quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Medo


Confesso que nunca consegui sentir na pele o mecanismo que leva algumas pessoas a ter prazer diante do medo. Sempre me mantive distante de filmes de terror e nunca tive sequer a intenção de fazer qualquer uma dessas pequenas loucuras chamadas rafting, pára-quedismo e bungee jumping. Quando eu era pequena e ia ao circo ficava tão tensa na hora dos leões que era impossível achar graça...

Os meus medos foram sempre bem conhecidos. Insetos em geral me apavoram, mas eu consigo me manter protegida levando uma vida basicamente urbana. De vez em quando, uma ou outra lagartixa me ameaça terrívelmente, então atravesso a garagem correndo. O medo se desfaz assim que a porta do elevador se fecha e me sinto em território seguro novamente...

Fora isso, sempre me achei bem corajosa, rs. Sério! Nao tenho medo da morte, já estive sozinha do outro lado do mundo e ja resolvi muita coisa nessa vida respirando fundo e sendo racional...

Mas um medo desconhecido tem se apresentado... Um medo sem nome, sem tamanho e sem hora pra chegar. Medo de que? Não sei... Só medo. Medo de que os pensamentos não parem de vir a tona, medo de que nada mais volte ao normal. Eu não sei quando ele chega, e nem quando ele vai embora. Mas ele vai.... Sempre vai! Enquanto escrevi este post, ele se foi...


quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Tiete...

Que eu amo Marcelo Camelo todo mundo já sabe.

Acho que isso já é suficiente pra explicar o nome deste blog.

Tirei de uma poesia música dele, claro.



Uma vez, combinei aqui em casa que traição com Chico Buarque não seria traição. Quero estender este critério pro Camelo! Posso?

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Sobre as rosas que não florescem

De repente me peguei sentindo saudade.

A minha vó foi uma grande e linda mulher.

Ela tinha maravilhosas unhas compridas e vermelhas que me encantaram desde sempre. Acho que foi com ela que aprendi a ser feminina. Quando eu ainda era bem pequena olhava admirada pra a sua penteadeira : um verdadeiro arsenal de misteriosos e indecifráveis cremes e perfumes que eu sonhava um dia usar... Mas ali era um território proibido para mim, mera "aspirante" a mulher. Cresci espiando aquele tesouro, que durou anos... Depois os cremes se empoeiraram, veio o Alzheimer, fizeram uma reforma e eu já não soube mais que destino teve a sua penteadeira (que mesmo sem os cremes, era um móvel lindo). Ainda assim, segui fascinada por sua capacidade de se manter linda e cheirosa, apesar de tudo.

Ela também foi uma ótima dona de casa, embora não cozinhasse muito bem. A sua casa tinha longas e lustrosas calçadas vermelhas que ela encerava com um cuidado admirável. Gostaria muito de ter herdado a sua organização e dedicação com a casa. Confesso que continuo sem saber como manter unhas e casas igualmente impecáveis!?!


E o jardim!? As calçadas vermelhas circundavam um jardim digno de cinema. Ela era apaixonada por rosas e durante muito tempo tentou, sem sucesso, manter vivas roseiras amarelas que ela plantava no quintal. Mas não teve jeito. As roseiras vermelhas, cor-de-rosa, brancas, todas cresciam e exibiam vivas e saltitantes rosas de todas as cores, enquanto as amarelas minguavam, murchas...

Depois de um tempo, o olhar admirado trocou de direção. Ela me contemplava mulher. Gostava das minhas escolhas: roupas, cabelo, livros, profissão. Eu sempre a surpreendi com pequenos detalhes que só ela era capaz de notar. Também era fácil presenteá-la. Bastava comprar pra ela algo que eu gostasse muito. Era muita afinidade e fico feliz de ter proporcionado leves distrações no finalzinho de sua vida. Um dia, foi capaz de ficar hipnotizada com um grampo de cabelo cheio de brilho que eu usava... Lindo.

Hoje sinto saudades. Duas Marias, mulheres, sensíveis, femininas... Acho que tínhamos mesmo muita coisa em comum (além do puxadinho no canto do olho).

A morte da minha vó foi lenta e dolorosa. A cada olhar perdido, cada nome não reconhecido, cada face incógnita demos um doloroso e inevitável adeus. Assim mesmo ela foi capaz de me mostrar o quanto genuíno e puro era o seu amor por mim. Quando já não me reconhecia mais, cada visita tinha o mesmo ritual: primeiro aquele olhar confuso, depois um leve sorriso e em seguida um "primeiro" elogio admirado. Um elogio terno, amoroso, gostoso demais de se ouvir. Acho que é por isso que ainda guardo no armário o vestido verde que ela tanto gostou.

No seu enterro levei rosas amarelas e música. A música, para ela, que um dia me pediu. Ninguém se opôs e o último adeus teve trilha sonora. Já as rosas amarelas, confesso, eram pra mim. Representavam o meu desejo profundo de que a vida tivesse poupado minha vó desta e de outras frustrações. Sua vida foi muito dura. Mas foi assim, com s
eu jeito feminino e cuidadoso de viver que ela me mostrou que beleza e delicadeza podem tornar tudo mais leve.

Espero continuar parecida com ela quando envelhecer... Ser amiga do tempo, amar as minhas rugas e aprender enfeitá-las como quem exibe orgulhosa as cicatrizes de uma dolorosa batalha. Desejo a sabedoria de quem me ensinou, um dia, que um jardim continua naturalmente belo mesmo que algumas rosas teimem em não florescer...

Coragem...

Eu me rendo!

Agora eu também tenho um blog!

Welcome all.