quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

2010 e os planos...

Bernardo,

E não é que passou 1 mês e vc ainda não chutou! Acho que quis mostrar bem cedo pra mamãe que certas coisas seguirão o seu ritmo.

Apesar de ainda pequeno na barriga, você está ocupando um espaço cada vez maior na nossa vida. No início suas coisas e resumiam a duas caixas de papelão, que eu levava com facilidade até a sala, satisfeita de mostrar a quem viesse nos visitar. Com as visitas, vieram os presentes, e junto às caixas, somaram-se algumas sacolas de loja... Até que resolvemos liberar uma prateleira do armário, que acomodou tudo com folga. E e eis que ela ficou completa! É filhote, está na hora de providenciar o seu cantinho...

Já estamos no quinto mês, metade do caminho percorrido. 2010 está acabando e as resoluções de ano novo se resumem a coisas que preciso fazer até maio. Depois de maio, o ano será inteirinho nosso. Você dirá o que será, e eu adaptarei os meus planos à você. É que por muito tempo você tem sido o plano mais importante de todos...

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Passagens

Bernardo,

É a primeira vez que chamo teu nome, nos textos que escrevo. Tem sido uma passagem lenta, essa de te chamar pelo nome. Cada vez que pronuncio Bernardo sinto que você se torna mais real e verdadeiro.

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Agora que já sei seu nome, fico aguardando o primeiro chute. Amanhã entraremos na 15a. semana de gestação, e eu acho não levará um mês até que eu sinta você espuletando dentro de mim. Aguardemos.

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Ontem a mamãe foi à terapia, você percebeu? Pois depois da terapia eu fiquei pensando sobre quanto você facilitou as coisas para mim sendo um menino. Quanta projeção eu trazia para uma filha menina, e do quanto meu coração está limpo e aberto para que você seja como você é. E então defini a sensação que predomina em relação a você: curiosidade. Aquela expectativa de querer saber como você será. De conhecer alguém que será de algum jeito, um jeito que eu vou amar, tenho certeza.
Com seu pai, é o contrário. Ele espera que você goste de cavalo, e use roupas iguais as dele (que já foram compradas, inclusive).
E eu acho isso tão bonito, de sonhar, de imaginar coisas para você... Assim, um de nós compartilha sonhos e que o outro acolhe aqueles que você mesmo sonhará...

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Você tem sido terapêutico, Bernardo! Uma paciente da mamãe que soube ontem da tua existência falou com você através da barriga, e pediu desculpas por toda a lamentação que vinha fazendo sobre a vida. Pediu que você desconsiderasse. Disse que a vida é boa, e que você vai gostar desse mundo. Falou das coisas legais que vão te encontrar do lado de cá. E a mamãe ficou com os olhos cheios de lágrima, porque frases como essa não são muito comuns vindos de alguém profundamente deprimida. Foi lindo.

domingo, 14 de novembro de 2010

Fusca

Hoje você ganhou seu primeiro brinquedo.

A bisa Lenita deu um carrinho, e disse que o presente tinha justamente essa intenção: que fosse o seu primeiro. É um fusca vermelhinho e logo fui pensando em proteger aquela relíquia simbólica das tuas mãozinhas curiosas. Queria tanto guardar para que assim para o resto da sua vida você lembrasse que foi a tua bisavó a primeira pessoa a dizer que além de camisas, sapatos e cobertores você também vai precisar de uma pitada de diversão. Mas seria muito injusto contigo, com ela e com o brinquedo. Eu prometo que deixo você brincar com ele. Depois vou guardar o que sobrar, junto com as lembranças...

sábado, 30 de outubro de 2010

Tanto faz

Menino ou menina?
Existe um lado ansioso que implora em saber. O mesmo lado controlador, que já deseja planejar cada detalhe do quarto, da vida e do enxoval. O lado que quer logo decidir que músicas irei cantar, e a quais lugares levarei meu filhote. O lado que, pela força do hábito, quer viver as coisas antes de seu tempo.

Felizmente existe o lado que aprendeu que essa vida de controle não leva a nada. Que se dispõe a viver algumas incertezas na vida, e que pode se surpreender ao saber o quanto algumas incertezas podem ser deliciosamente vivenciadas.

Que outra época na vida eu poderei viver a possibilidade de sonhar com um menino E com uma menina? Depois, tudo estará definido, e para todo o sempre eu abrirei mão de um dos mundos, seja do cor de rosa ou do azul. Vou lamentar. Sentir falta de poder olhar absolutamente tudo, e naquela dúvida gostosa imaginar qual deles invadirá minha vida. Sonhar com todas as possibilidades, e me entregar a cada uma delas como quem se entrega a uma dúvida deliciosa.

Não tenho preferências. Antes de engravidar a projeção em uma menina era meio óbvia. Meu lado mulherzinha sorriria satisfeito com um mundo de laços e fitas. Hoje vejo que a vida seria tão boa com um moleque! Eu aprenderia tanto com alguém que desde o princípio estabeleceria o que está posto: sairá de dentro de mim, mas será diferente.

Menino ou menina, tanto faz... Até a intuição primeira de que seria um menino está enfraquecida. Sei que o coração está preparado, seja lá o que é.

Agora somos uma família

Que óbvio. Mas não era assim antes. Aquilo que era egoisticamente preservado, que não achávamos necessário revelar, agora é compartilhado, dividido, exposo... Num altruísmo verdadeiro e genuíno, de quem abriu o coração e a vida para que os laços se fortalecessem ainda mais, se entrelassacem num emaranhado de vida no qual tudo se mistura, o que é meu e o que é dele. É uma mudança sutil, mas está acontecendo.
Algo me diz que nosso bebê será uma bela misturinha, porque é isso que está acontecendo com nossas vida. Tudo está sendo misturado. E quando isso acontece, a gente precisa aprender a ter companhia naquela sua parte que antes era só sua, tão preservada e resguardada... Desafiador, mas necessário.
Agora somos uma família.

A flor da pele...

Essa montanha russa hormonal que se instala no corpo da gente traz uma sensibilidade tão aguçada! Apesar de alguns inconvenientes, estou gostando. É como se os sentidos tivessem se intensificado numa experiência única... Sinto cheiros tão suaves, e fico grata por estar vivendo isso na primavera. Vocês não imaginam como algumas ruas estão perfumadas! Que delícia... Certas músicas invadem cada célula do meu corpo. O paladar está mais aguçado, exigente... E mais prazeroso, também. E queria tanto ter uma boa câmera pra fotografar detalhes que agora enxergo!!!! Ando preservando minha visão. Ainda não vi ( e não verei) Tropa de Elite 2. Cuidado ao me indicar filme. Outro dia me indicaram A ilha do medo, e passei dias impressionada com certa cena. Não vi até o final. E eu nunca fui assim.
E então eu chego à conclusão que se você tiver alguma percepção mais aguçada de si mesma, se perceberá muito diferente estando grávida. Eu estou muito diferente. Fico pensando se algumas dessas características serão transmitidas por osmose para meu bebê. Seria legal um filho que não comesse carne e fosse bastante sensível... É que está sendo tão bom estar assim.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Young Soul...

Quando me perguntam dos primeiros sinais da gravidez costumo falar das pequenas cólicas e rotineiros enjôos. Mas a grande verdade é que dias antes de saber que estava grávida eu escrevi um texto no qual dizia o quanto estava me percebendo introspectiva, ausente, distante... Na época, as pessoas me indagavam e eu dizia ser cansaço, mesmo sabendo que devia ser outra coisa. É que era difícil descrever. Eu não sabia o que estava sentindo, e foi por isso mesmo que escrevi o tal texto.

Hoje continuo justificando essa sensação com os enjoos e com a pressão baixa, mas no fundo sei que são apenas palavras que uso para tornar a conversa mais fluída e cotidiana. Sinto que preciso justificar para alguns porque não estou conseguindo prestar atenção àquela conversa, ou... Porque esqueci do compromisso que agendei ontem mesmo.

A verdade é que não é enjoo, não é pressão baixa, mas desde que engravidei me voltei para dentro de mim, numa intensidade até então desconhecida. Falar cansa. Ouvir distrai. Só consigo ouvir e falar com meu corpo, alma e coração, que se ajustam num movimento lento e preparatório para a futura maternidade. Não é um recolher sombrio. Não tenho sombras dentro de mim. Tenho sonhos, medos e muita, muita alegria.

Mas ando tão quieta que fiquei um pouco chata, quase um ser antissocial. Converso pouco, e qualquer movimento parece um esforço descomunal. Que energia poderosa essa que faz a gente se voltar para o próprio umbigo (literalmente!) a despeito de tudo.

Não foi fácil aceitar esse recolhimento. Não tive escolha. Alguns limites a gente precisa respeitar, e ver o seu corpo virar o centro de sua vida é um tanto desconcertante. Mas dá pra viver.

Aproveito esse movimento para ouvir músicas para meu filhote. Não sei se são para ele, ou para mim... Mas em geral são músicas que me conectam com meu corpo, que me tranquilizam. Saber que tem um bebê crescendo em mim me faz perceber tão humana e divina ao mesmo tempo...

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Louca pra te ver chegar...


Sexta-feira o Romero e eu estivemos numa festa. Estávamos felizes, radiantes mesmo. Como acontece sempre nos casamentos, a gente lembrava do dia em que casamos, e de todos os sonhos e planos que fizemos. De quantas coisas a vida nos reservou desde aquele dia. Como estamos diferentes, como o amor mudou. Mais maduro, mais real, mais concreto. E mais forte também. Achamos que a vida estaria diferente quase 4 anos depois, e hoje vemos que teria sido impossível prever coisa alguma...
A festa acontecia até que a uma certa altura uma das músicas que tocavam se destacou. Não era estranha pra nós. É uma música da Adriana Calcanhoto que fala dos sentimentos que se tem na ausência de alguém que se ama. Não me lembro de uma vez sequer ter conseguido ouvi-la até o fim sem desabar no colo do Romero, momento em que ele me oferecia toda dose de otimismo que ele tinha pra dar. Pois foi ali, naquela festa, naquela noite linda, no meio de tanta alegria, enquanto tocava aquela música que eu me lembrei. Lembrei do quanto esperei por esse momento, do quanto desejei viver esse amor. Do amor que sempre tive, e que doía no peito por não ter para onde ir. Era difícil não ter você, filhote. Era doloroso me identificar com um “avião sem asa”, ou uma “fogueira sem brasa”. O tempo parecia não passar, questionei tanta coisa na minha vida. Foi sobretudo um andar solitário.
Foi bom poder ouvir aquela musica novamente num dia tão feliz. Ouvir e perceber que inevitavelmente tudo o que vivemos faz parte de quem eu sou agora. Da mãe que serei. Mais tolerante, mais complacente e mais humana também. Sei melhor dos meus limites e aprendi a lidar com algumas impossibilidades da vida. Olhando do lado de cá, a vida parece ter parado durante essa espera. E esses longos anos, que pareceram durar uma eternidade, hoje parecem um lapso de vida na minha história.
Pois enquanto me lembrava disso tudo, alguns amigos chamaram para brindar. Eles não sabiam da nossa ligação com a música, e nem do quanto perfeito estava sendo aquele momento para celebrarmos. Eles apenas se alegraram ao saber da tua chegada, e foi assim que sexta-feira, pela primeira vez, eu brindei à sua vida filhote.
Continuamos a te esperar. Mas agora numa contagem regressiva ansiosa e cheia de um amor que finalmente tem o seu lugar.
* Foto tirada na festa...

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Incoerência

Tá aí uma coisa que me incomoda na vida. Incoerência.

Sempre exigi muito de mim e embora aceite com facilidade a dualidade alheia, comigo sou implacável. Ou quero, ou não quero.

Se escolhi um caminho, não me permito olhar para a estrada vizinha.

Aliàs... Não me permitia.

Ando com coragem de espiar as escolhas não feitas, a vida não vivida.

Ando com coragem de ouvir meus desejos e aceitá-los como são. Desalinhados, incontroláveis, desorganizados, e... voilá! Incoerentes...

Ando com coragem de me perguntar: "e agora, o que fará?".

Talvez eu ainda não ande com coragem de responder.

"Let it be, let it be... let it be, let it be... There will be an answer, let it be."