sábado, 30 de outubro de 2010

Tanto faz

Menino ou menina?
Existe um lado ansioso que implora em saber. O mesmo lado controlador, que já deseja planejar cada detalhe do quarto, da vida e do enxoval. O lado que quer logo decidir que músicas irei cantar, e a quais lugares levarei meu filhote. O lado que, pela força do hábito, quer viver as coisas antes de seu tempo.

Felizmente existe o lado que aprendeu que essa vida de controle não leva a nada. Que se dispõe a viver algumas incertezas na vida, e que pode se surpreender ao saber o quanto algumas incertezas podem ser deliciosamente vivenciadas.

Que outra época na vida eu poderei viver a possibilidade de sonhar com um menino E com uma menina? Depois, tudo estará definido, e para todo o sempre eu abrirei mão de um dos mundos, seja do cor de rosa ou do azul. Vou lamentar. Sentir falta de poder olhar absolutamente tudo, e naquela dúvida gostosa imaginar qual deles invadirá minha vida. Sonhar com todas as possibilidades, e me entregar a cada uma delas como quem se entrega a uma dúvida deliciosa.

Não tenho preferências. Antes de engravidar a projeção em uma menina era meio óbvia. Meu lado mulherzinha sorriria satisfeito com um mundo de laços e fitas. Hoje vejo que a vida seria tão boa com um moleque! Eu aprenderia tanto com alguém que desde o princípio estabeleceria o que está posto: sairá de dentro de mim, mas será diferente.

Menino ou menina, tanto faz... Até a intuição primeira de que seria um menino está enfraquecida. Sei que o coração está preparado, seja lá o que é.

Agora somos uma família

Que óbvio. Mas não era assim antes. Aquilo que era egoisticamente preservado, que não achávamos necessário revelar, agora é compartilhado, dividido, exposo... Num altruísmo verdadeiro e genuíno, de quem abriu o coração e a vida para que os laços se fortalecessem ainda mais, se entrelassacem num emaranhado de vida no qual tudo se mistura, o que é meu e o que é dele. É uma mudança sutil, mas está acontecendo.
Algo me diz que nosso bebê será uma bela misturinha, porque é isso que está acontecendo com nossas vida. Tudo está sendo misturado. E quando isso acontece, a gente precisa aprender a ter companhia naquela sua parte que antes era só sua, tão preservada e resguardada... Desafiador, mas necessário.
Agora somos uma família.

A flor da pele...

Essa montanha russa hormonal que se instala no corpo da gente traz uma sensibilidade tão aguçada! Apesar de alguns inconvenientes, estou gostando. É como se os sentidos tivessem se intensificado numa experiência única... Sinto cheiros tão suaves, e fico grata por estar vivendo isso na primavera. Vocês não imaginam como algumas ruas estão perfumadas! Que delícia... Certas músicas invadem cada célula do meu corpo. O paladar está mais aguçado, exigente... E mais prazeroso, também. E queria tanto ter uma boa câmera pra fotografar detalhes que agora enxergo!!!! Ando preservando minha visão. Ainda não vi ( e não verei) Tropa de Elite 2. Cuidado ao me indicar filme. Outro dia me indicaram A ilha do medo, e passei dias impressionada com certa cena. Não vi até o final. E eu nunca fui assim.
E então eu chego à conclusão que se você tiver alguma percepção mais aguçada de si mesma, se perceberá muito diferente estando grávida. Eu estou muito diferente. Fico pensando se algumas dessas características serão transmitidas por osmose para meu bebê. Seria legal um filho que não comesse carne e fosse bastante sensível... É que está sendo tão bom estar assim.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Young Soul...

Quando me perguntam dos primeiros sinais da gravidez costumo falar das pequenas cólicas e rotineiros enjôos. Mas a grande verdade é que dias antes de saber que estava grávida eu escrevi um texto no qual dizia o quanto estava me percebendo introspectiva, ausente, distante... Na época, as pessoas me indagavam e eu dizia ser cansaço, mesmo sabendo que devia ser outra coisa. É que era difícil descrever. Eu não sabia o que estava sentindo, e foi por isso mesmo que escrevi o tal texto.

Hoje continuo justificando essa sensação com os enjoos e com a pressão baixa, mas no fundo sei que são apenas palavras que uso para tornar a conversa mais fluída e cotidiana. Sinto que preciso justificar para alguns porque não estou conseguindo prestar atenção àquela conversa, ou... Porque esqueci do compromisso que agendei ontem mesmo.

A verdade é que não é enjoo, não é pressão baixa, mas desde que engravidei me voltei para dentro de mim, numa intensidade até então desconhecida. Falar cansa. Ouvir distrai. Só consigo ouvir e falar com meu corpo, alma e coração, que se ajustam num movimento lento e preparatório para a futura maternidade. Não é um recolher sombrio. Não tenho sombras dentro de mim. Tenho sonhos, medos e muita, muita alegria.

Mas ando tão quieta que fiquei um pouco chata, quase um ser antissocial. Converso pouco, e qualquer movimento parece um esforço descomunal. Que energia poderosa essa que faz a gente se voltar para o próprio umbigo (literalmente!) a despeito de tudo.

Não foi fácil aceitar esse recolhimento. Não tive escolha. Alguns limites a gente precisa respeitar, e ver o seu corpo virar o centro de sua vida é um tanto desconcertante. Mas dá pra viver.

Aproveito esse movimento para ouvir músicas para meu filhote. Não sei se são para ele, ou para mim... Mas em geral são músicas que me conectam com meu corpo, que me tranquilizam. Saber que tem um bebê crescendo em mim me faz perceber tão humana e divina ao mesmo tempo...