domingo, 18 de outubro de 2009

Sobre a arte de se deixar levar pelo mar da vida...


Eu a-d-o-r-o o Rubem Alves. Eu sei que há muito já passei do tempo de tietar alguém. Vai ver esse foi um hábito que ganhei na adolescência, e que não consegui abandonar. O fato é existe um bocado de gente que eu aprendi a ler, admirar e gostar. Pessoas pelas quais eu nutro uma admiração incondicional...

Eis que um dia desses, folhando um livro dele (que tá até gasto de tanto que li) me deparo com a seguinte frase:

"A sabedoria suprema não é remar, mas não fazer nada, deixar-se levar pelo mar da vida que é mais forte".

Até tu, Rubem?????

Teve um tempo na minha vida em que tudo fluía maravilhosamente bem.
Eu desejava, realizava e as coisas aconteciam. Tudo na mais perfeita sintonia, de tempo e de desejo. Foi impossível não alimentar um sentimento grandioso de onipotência e autossuficiência. Brincando com a metáfora de Rubem Alves: foi com meus remos e com meus braços que eu cheguei onde cheguei.

Até que resolvi engravidar.

Como tudo tivesse fluído antes, assim deveria ser... Mas não foi. Me deparei com a incontrolabilidade sobre a vida. E percebi o quanto era ilusória a sensação de controle sobre as minhas decisões. Antes eu só estava remando para a mesma direção que me levava a maré. E que força eu já pensei ter em meus braços!!!!!

Era pra outras praias, que o mar da vida queria me levar. Como eu não quis aquela onda, me levando pra um lado oposto. Reagi como uma criança birrenta, que de tudo um pouco faz, na esperança de retomar o controle.

Mas não adiantou remar. E não adiantou espernear. Não adiantou chorar, fazer drama, buscar especialistas. Para onde quer que eu olhasse (inclusive para o Rubem Alves) a resposta era uma só: Para não sofrer com o mar da vida, só existe uma solução... Largar os remos, e aceitar... Aceitar que outras lições viriam, antes da maternidade.

Felizmente, no mesmo texto, ele continuou me dando resposta: “Eu nunca consegui chegar a lugar algum usando remos. Sempre fui levado por uma força mais forte que minha razão a praias com que nunca havia sonhado. Foi assim que me tornei escritor, porque o mar foi mais forte que o meu plano de viagem”.

Em algum lugar, bem lá no fundo, existe em mim uma parte orgulhosa que ainda reluta em aceitar a insignificância ao decidir a própria vida. Mesmo assim, já sou capaz de me encantar com algumas das surpresas que me traz esse lugar desconhecido e não planejado...

2 comentários:

Ana Carolina disse...

Você falou as verdades que eu nunca tinha parado pra pensar até então...Adorei as comparações!! Não conheço Rubem Alves, mas sábias palavras!!
Agora, como é difícil abandonarmos os remos, quando queremos ir pra uma direção e a correnteza teima em mudar nosso rumo né!!!

bjao

Camis disse...

Ciça... Gostei muito do que você escreveu, me fez refletir um tantinho (minto, foi um tantão!)

E o Rubem Alves é umas minhas melhores lembranças acadêmicas (um livro chamado Filosofia da Ciência, que me acompanhou numa disciplina durante um semestre).
Eu simplesmente amava!

Beijos!!